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Comerciante fundou feirinha no povoado para evitar que moradores fossem atacados pelo bando de Lampião

A cidade de Feira Nova, distante 104 quilômetros da capital, nasceu de uma feira de trocas de animais criada por comerciantes na década de 30. O objetivo era evitar que os habitantes saíssem para fazer suas compras em cidades vizinhas e fossem atacados pelo bando de Lampião, o cangaceiro mais temido do sertão. A denominação marcou tanto que foi mantida após a emancipação do município, ocorrida em 1963.

O povoado surgiu de uma fazenda chamada Logrador (Logradouro). Parte das terras, a maioria pertencente a Domingos Dias de Souza (Domingo Bolachão), foi adquirida por José Alves de Queiroz (Fifio), que passou a habitar no pequeno povoado onde já residia José Lino de Souza, um comerciante de peles de animais. Fifio teve a idéia, junto com José Lino de Souza, de montar uma bodega e transformar parte daquele ambiente em um pequeno centro de troca e venda de gado e couro.

Na época, os moradores da redondeza faziam as compras nas feiras das cidades vizinhas, Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora das Dores. Eles viviam aterrorizados com as histórias de atrocidades praticadas pelo bando do cangaceiro Lampião, que rondava a região e tomava as mercadorias dos feirantes. Por causa disso, com a colaboração de comerciantes destemidos de Glória e Dores, a feira livre foi implantada no próprio povoado.

Início da feira

Segundo o ex-recenseador Hermógenes Leite Queiroz, 69 anos, seu tio Fifio montou num burro e saiu convidando feirantes e moradores de toda a região para participarem da feira que teve início no dia 12 de março de 1939. “Começou pequena, mas depois cresceu muito e ficou bem maior do que é hoje”, lembra ele.

A pequena feira iniciada no meio do mato, com a oferta de poucos animais, gêneros alimentícios e a indispensável farinha de mandioca, aos poucos foi se transformando num local de passatempo. Todos eram convidados para ver essa feira nova que surgia entre os dois municípios.

Esse fato exerceu grande relevância para que, após alguns anos, Antonio dos Reis Lima, prefeito de Nossa Senhora das Dores, na época sede do povoado, implantasse alguns órgãos públicos no conhecido Logrador, a exemplo do mercado e da delegacia.

O rápido crescimento do pequeno povoado contribuía para que a comunidade reivindicasse o direito de independência, conseguida através da Lei nº 1.211 de 18 de outubro de 1963, que criou o município de Feira Nova e elevou o povoado à categoria de cidade.

Seu território foi desmembrado dos municípios de Cumbe e Nossa Senhora das Dores, cuja instalação dos poderes Executivo e Legislativo ocorreu em 28 de fevereiro de 1965. Feira Nova teve como primeiro prefeito Manoel Vieira Santos (Fiinho).

Economia e tradições

Banhado pela Bacia do Rio Sergipe e alguns mananciais como os riachos Salgado e Doce, o município era considerado um grande produtor de algodão na região, possuindo, inclusive, uma grande fábrica de beneficiamento desse produto, desativada pelo poder público há alguns anos. Essa indústria foi responsável pela geração de muitos empregos no município.

Na indústria, a geração de empregos fica a cargo das fábricas de laticínios e panificações, com produtos de boa qualidade. Enquanto isso, o rendendê vai fazendo história e mantendo uma das velhas tradições no comércio.

Os costumes populares foram copiados das primeiras famílias a habitarem o município, tais como: visitar a cruz do Itapicuru na Sexta-Feira Santa, acompanhar a via-crúcis percorrida pelos penitentes durante a quaresma e reunir os cavaleiros da redondeza para um grande casamento caipira na noite de São Pedro.

As principais festas e atrações turísticas resistem desde o surgimento da cidade. São elas: Santos Reis, padroeira Nossa Senhora das Graças, festas juninas, corridas de argolas e vaquejada.

O Tanque Velho aterrado no lixo

Para o morador Juarez dos Santos, 63 anos, o fato que mais lhe deixou indignado no município foi o aterro do Tanque Velho (barragem), ocorrido na administração do prefeito Dernival Joaquim dos Santos. “Ele mandou jogar lixo no tanque que tem mais de cem anos, e cerca de 100 metros de extensão. Foi um crime dos maiores do mundo. Eu até discuti com o prefeito por causa disso”, lembra Juarez.

O Tanque Velho foi o divertimento da garotada durante várias gerações. Quando ainda não existia água encanada, as mulheres iam lavar roupa e não voltavam para casa antes de nadar nas suas águas. “Era uma riqueza para os pobres. Depois da água encanada, a gente dava água aos animais e ainda lavava os carros”, lembra Juarez.

Tributo a Feira Nova

José Augusto de Souza – Professor

Oh! Feira Nova querida
Que outrora foi Logradouro;
O teu trajeto de vida
Tem coisas que valem ouro.
Por causa de uma feira
Originou-se a cidade;
Teu aspecto inveterado
Ainda deixa saudade
O teu povo em ti confia
Com um semblante a fulgurar;
Na esperança de que um dia
Perdure a cidadania e o direito de sonhar.
Tu és tão sóbria, cidadela,
Quase sem turbilhão
Doravante terás renome,
Pois estás localizada no começo do sertão
Tenho-te no entanto
Como um gemido de flor;
Na essência deste chão
Foi dispensado o meu labor.
Não direi teu nome, oh pátria minha,
Não és florão, és pátria amada;
Meus olhos secos como pedra,
Porém banharam em sonhos no longo desta jornada.

Filhos ilustres do município

José Lino de Souza – dono das primeiras terras do povoado. Fundou a cidade em parceria com

José Alves de Queiroz (Fifio)
, que nasceu no povoado Sucupira, em Dores, mas mudou-se para o povoado aos 23 anos.


Manoel Vieira Santos (Fiinho)
– Primeiro prefeito. Entre as principais obras estão a construção da primeira escola na zona urbana e o Talho de Carne Verde.


José Joaquim dos Santos (Zé das Queimadas)
– Líder político, prefeito por duas vezes. Precursor da valorização da educação e do esporte no município. Entre as suas obras estão a praça principal (que traz seu nome), praça da matriz, escolas rurais, eletrificação na zona urbana, construção da prefeitura e do campo de futebol.


Valdira Rita dos Santos
– Primeira mulher eleita vereadora. Implantou a alfabetização e foi responsável por relevantes projetos no município, entre eles o Brasil Criança Cidadã.


José Joaquim dos Santos
(Zé Guarda, auditor fiscal aposentado) e Pedro Barbosa de Souza (Pedro
Venâncio) – Criaram o Feira Esporte Clube, inscrito no esporte amador, que revelou vários atletas para times profissionais, a exemplo de Carlos Clay, que jogou no Olímpico e no Itabaiana.


Elenízio Dantas de Souza
– prefeito de 83 a 85, quando foi assassinado no exercício do mandato. Entre suas obras estão a exatoria, o terminal rodoviário e a delegacia.


Maria Ednalva Santos
– professora estadual, 1ª diretora da Escola Maria Montessori, grande símbolo da educação no município e realizadora de eventos religiosos e sociais. A primeira escola municipal urbana leva seu nome.


Flaviano Moura
– professor em São Francisco, no Estado da Califórnia, Estados Unidos.


Geralda Oliveira Santos
– formada em Letras, professora da UFS.


Sildeno Dantas Santos
– Contador e professor da Unit.


A jornalista Edivânia Freire
, premiada com o segundo lugar no Concurso de Reportagem Pascoal Maynard 2001, promovido pela Asi, também é de Feira Nova. Aos 11 anos, quando sua mãe, a professora Maria Ednalva Santos, morreu, mudou-se para São Paulo onde foi morar com a avó. Voltou aos 17 anos, trabalhou no Posto Cultural, Telergipe, Banco Econômico (local e Ag. Hiper Bompreço em Aracaju) e trabalhou cinco anos no Jornal da Cidade. Está no CINFORM também há cinco anos. Passou pela Editoria do Caderno dos Municípios – inclusive fez a série História dos Municípios -, e atualmente é secretária da Redação.

Feira Nova hoje

Região: Sertão
Distância de Aracaju: 104 km
População: 5.062
Atividade econômica: Pecuária (bovinos, suínos, caprinos e aves), agricultura (milho, feijão e abóbora) e comércio. Na indústria possui uma fábrica de manteiga queijo e requeijão.

 

Edivânia Freire, com colaboração de Gileide Barbosa

Fonte: Cinform Municípios

 

Artigos: NOS ALPENDRES DA VIDA

Publicado: 09/08/2009 em Livros

NOS ALPENDRES DA VIDA

Cezar Britto
 
 

Tenho a impressão de que toda idéia concebida pelo homem, independentemente da época em que tenha vivido, guarda relação direta com o seu poder de sintetizar as idéias que giram à sua volta. O resultado desta síntese pode até ter o sabor da originalidade, mas não se pode negar que os temperos utilizados já eram preexistentes. O prato servido por uma idéia sempre traz o charme da mistura de vários elementos.

Eis porque nunca acreditei que o homem é um projeto pronto e acabado, ou melhor escrevendo, que o homem já nasce perfeito ou predestinado para tal e determinado fim. Ao contrário, eu acredito na idéia de que o homem é o somatório de sua vida com aquelas adquiridas através do ensinamento, da herança ou pelo relacionamento com o alheio. Tenho a plena consciência de que não sou perfeito ou mal acabado, mas um projeto em constante ebulição e evolução, ou em outras palavras, eu sou o que herdei, conheci, adquiri, aprendi, errei, sintetizei, amei e construirei no percorrer da vida.

As matérias e idéias que semanalmente publico nesta coluna bem retratam o que estou a afirmar, pois são os resultados das minhas conversas nos alpendres da vida. No caso, os alpendres que utilizei para conversar sobre a vida foram infinitos, mesmo porque a vida é plural, não excludente e tem o gostoso vício da paixão. Nestes alpendres, convertidos em uma coluna semanal, eu aprendi, ensinei, sintetizei, discordei, fui convencido e, por fim, fixei mais um tijolo no edifício da minha vida.
Por serem conversas e não monólogos, não é necessário dizer que também várias pessoas freqüentaram os alpendres da vida exposta nesta coluna, o que as tornaram também senhoras do que expus. E olhe que alguns dos meus interlocutores sequer trocaram um dedo de prosa comigo, mesmo porque nunca souberam que eu existia. Mas conversas são assim mesmo, surgem e desaparecem quando querem, não têm lógica ou assuntos definidos, algumas são motivadas pelas coisas do mundo, outras embaladas pelo ritmo do coração.

E como se tivessem adquirido o poder das ondas de rádio, nossas conversas semanais foram captadas pelos ouvidos do amigo-cearense Marcos Collares, que ousou editá-las em um livro. "Nos alpendres da vida" foi o único nome que imaginei para batizar o livro que abrigou parte destas conversas, cinqüenta ao todo, pois dedicado a todos aqueles que freqüentaram a minha varanda, mesmo que através dos modernos e carinhosos e-mails que recebi. Também é dedicado àqueles que me permitiu freqüentar os alpendres de suas próprias vidas, autorizando que fosse transferida para minha vida parte do que aprenderam ou viveram.

Mas devo admitir que algumas pessoas tiveram assento marcado nas cadeiras que integram as varandas da minha vida, todas elas importantes para que nossos diálogos ficassem consolidados no livro. Marluce, minha companheira de rede e mesa, é uma delas, mesmo porque sem ela não seria possível reproduzir os imperdíveis diálogos que mantive com os meus filhos Diego, Manuela, Gabriella e Ruan. Visitaram-me, também, vários familiares, conterrâneos, amigos e companheiros da Sociedade Semear, Advocacia Operária e OAB.

Um outro freqüentador da minha varanda foi Jozailto Lima, editor do jornal CINFORM, um dos grandes responsáveis pelo adormecer da timidez que, paradoxalmente, me prendia acomodado e sonolento na rede de minha sacada. Também foram assíduas proseadoras as amigas EDIVÂNIA FREIRE, Ana Paula Vasconcelos e Waneska Cipriano, as duas últimas sendo responsáveis pela reprodução de nossas conversas de alpendres nas páginas mágicas da Internet, arquivando-as definitivamente nos ilimitados espaços da INFONET. Todos eles, sem exceção, me fizeram compreender que jogar conversa fora é também viver e construir novas vidas.

Na próxima semana, exatamente no dia 22 de setembro, às vinte horas, a Sociedade Semear, o CINFORM e a INFONET, como parceiros nas conversas que resultaram nas crônicas consolidadas no livro, farão o seu lançamento em Aracaju. Escolheram a Livraria Nobel, localizada no Complexo Cultural Sociedade Semear, na Rua Vila Cristina, nº 148, como o alpendre que servirá para a nova conversa. Eu, modestamente, convido a todos que já me honram com suas conversas e idéias, consolidadas "nos alpendres da vida", a continuarmos conversando, na próxima segunda ou no dia que desejarem mais uma vez papear.

FONTE: Cinform/Infonet – Ultima Atualização: 16/08/2006
 

23/03/2006, 20:37

Por Luiz Antonio Barreto

O Estado de Sergipe, sua capital e seus 74 municípios do interior, continua sendo objeto de estudos. Em 2002 saíram duas bem cuidadas publicações: História dos Municípios, edição do jornal CINFORM, e Sergipe Panorâmico, da Universidade Tiradentes. São, graficamente, dois belos trabalhos, em formato idêntico, de revista, com ilustração abundante. São, também, edições comemorativas. A primeira, marca a edição nº 1.000 do jornal semanário CINFORM e a segunda, os 40 anos da UNIT.

Para o Superintendente do CINFORM, Antonio Moura Bonfim, trata-se de uma Revista dos Municípios, com a “história política, econômica e cultural das 75 cidades que compõem este pequeno e bravo Estado”. Bonfim também refere, no seu texto de abertura, que o trabalho saiu, semanalmente, no Caderno dos Municípios, desde 26 de junho de 2000, até 25 de dezembro de 2001, contando com os jornalistas Cristian Gois, Edivânia Freire, que continuou a publicação semanal e preparou a edição da Revista, e ainda, Carla Passos e Valnísia Mangueira, com fotos de Diógenes Di, Manoel Ferreira, Edson Araújo e Silvio Rocha. Jozailto Lima, jornalista e poeta, editor geral do CINFORM, foi também o editor da publicação especial.

O livro, ou revista, do CINFORM tem muitas qualidades, mesmo não sendo um trabalho técnico, e uma delas é utilizar o método da história oral para recompor fatos, ampliar o horizonte da informação, abordar aspectos incomuns de cada município, mostrando uma diversidade cultural. Outra qualidade é recolher, nos guardados do povo, uma iconografia antiga, com a qual ilustrou as páginas da Revista. Não sendo uma produção acadêmica, a História dos Municípios é, antes de tudo, uma publicação de massa, que guarda algumas características do pioneiro Cadastro de Sergipe.

Esperava-se que a Universidade Tiradentes, bem sucedido empreendimento de ensino, com 40 anos de afirmação de competência por parte da família do professor Jouberto Uchoa de Mendonça, apresentasse um trabalho com um mínimo de academicidade. Sergipe Panorâmico frustra o leitor, pela repetição de dados, sem o mínimo cuidado de conferi-los, sem qualquer novidade que representasse um acréscimo, por mínimo que fosse, aos trabalhos anteriores. A tarefa não foi cumprida e compromete seus autores, principalmente Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, que tem outros trabalhos interessantes, sobre Maruim, o Barão de Maroim e Rosário do Catete. Jouberto Uchoa de Mendonça, que também figura como autor, fez uma bela carreira na educação em Sergipe, desde a cátedra de matemática no ginásio Pio X, até a fundação do ginásio Tiradentes, depois colégio, depois faculdades integradas e, por último, universidade, a vitoriosa UNIT.

A expectativa para os próximos anos é que os cursos superiores que estão sendo levados ao interior, capitaneados pelo PQD – Programa de Formação Docente, que é especialmente dirigido para os professores das redes públicas, estadual e municipal, fortaleçam a idéia de uma rede de pesquisas sergipanas, que possa aprofundar em todos os sentidos a busca dos fatos, personagens, números, paisagens, naturais e agenciadas, vida social, produção artística, atividades culturais, crenças religiosas, costumes e todo o folclore, e fazer a leitura interpretativa, guardando  velho conceito da estatística, harmonizado em suas múltiplas funções culturais.

Há um acesso rápido às informações, as novas tecnologias disponibilizam para todos. O livro já não é o único suporte da cultura, muito embora continue sendo um instrumento essencial para uso escolar, ao lado das revistas, jornais, boletins, anais, e outras publicações textuais. O vídeo, que reúne texto e imagens e permite dar a movimento funções didáticas, o CD, o CD ROM, o disquete, como objetos ou embutidos no computador e em circulação via internet, são novos suportes difusores do acervo produzido. O conhecimento, devidamente ordenado, será sempre uma nascente, que tanto pode alimentar as pesquisas e os estudos, como pode acumular o que de novo a inteligência sergipana prepara sobre o Estado e sobre a sociedade de Sergipe.

Urge, contudo, que os títulos mais representativos das quadras estudadas sejam disponibilizados ao público, para alargar democraticamente o acesso ao conhecimento. De nada adianta o esforço anterior, de dezenas de pessoas, fazendo o registro da história, explicando a geografia, arrolando nomes, coisas, compondo os painéis estatísticos, se muitas das publicações continuam desconhecidas, outras desaparecidas, ou carcomidas pelo tempo e pelo descaso. Há, também, muita coisa inédita, esparsa, precisando de uma coleta e um ordenamento para publicação, como necessidade imperiosa, como é o caso da Carta do Provincial Inácio de Tolosa, de 7 de setembro de 1575, espécie de “certidão de batismo” de Sergipe, pois trata da expedição catequética do padre Gaspar Lourenço e do irmão João Salonio. A Carta, cujo original está no Códice Jesuítico da Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal, tem cópia de boa qualidade no acervo do PESQUISE.

Não fosse o papel de inventariante bem cumprido por Jackson da Silva Lima, convertido em obras essenciais, como os dois volumes da História da Literatura Sergipe, o volume do Folclore Sergipano – Romanceiro, e as bibliografias especiais, e seria muito menor o acervo sergipano disponível, a serviço do conhecimento. São figuras de intelectuais singulares, que avultam com seus trabalhos, como verdadeiros titãs. A história haverá de guardar os seus nomes: Travassos, Felisbelo Freire, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Laudelino Freire, Silva Lisboa, Ivo do Prado, Carvalho Lima Júnior, Elias Montalvão, Clodomir Silva, Sebrão, sobrinho, Fernando Porto, José Calasans, Mário Cabral, Armando Barreto, José Cruz, Mara Thetis Nunes, Adelci Figueiredo, e outros tantos vultos que mantém acesos e visíveis os traços da sergipanidade, diferencial que singulariza o viver, sergipanamente, como expressão de uma cultura própria, marcada por circunstâncias no fulcro do tempo. A sergipanidade se revela, assim, como um caleidoscópio pelo qual a terra, a gente, a história se destacam, no contexto de uma mesma saga nordestina e brasileira.

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Por Luiz Antonio Barreto

O Estado de Sergipe, sua capital e seus 74 municípios do interior, continua sendo objeto de estudos. Em 2002 saíram duas bem cuidadas publicações: História dos Municípios, edição do jornal CINFORM, e Sergipe Panorâmico, da Universidade Tiradentes. São, graficamente, dois belos trabalhos, em formato idêntico, de revista, com ilustração abundante. São, também, edições comemorativas. A primeira, marca a edição nº 1.000 do jornal semanário CINFORM e a segunda, os 40 anos da UNIT.

Para o Superintendente do CINFORM, Antonio Moura Bonfim, trata-se de uma Revista dos Municípios, com a “história política, econômica e cultural das 75 cidades que compõem este pequeno e bravo Estado”. Bonfim também refere, no seu texto de abertura, que o trabalho saiu, semanalmente, no Caderno dos Municípios, desde 26 de junho de 2000, até 25 de dezembro de 2001, contando com os jornalistas Cristian Gois, Edivânia Freire, que continuou a publicação semanal e preparou a edição da Revista, e ainda, Carla Passos e Valnísia Mangueira, com fotos de Diógenes Di, Manoel Ferreira, Edson Araújo e Silvio Rocha. Jozailto Lima, jornalista e poeta, editor geral do CINFORM, foi também o editor da publicação especial.

O livro, ou revista, do CINFORM tem muitas qualidades, mesmo não sendo um trabalho técnico, e uma delas é utilizar o método da história oral para recompor fatos, ampliar o horizonte da informação, abordar aspectos incomuns de cada município, mostrando uma diversidade cultural. Outra qualidade é recolher, nos guardados do povo, uma iconografia antiga, com a qual ilustrou as páginas da Revista. Não sendo uma produção acadêmica, a História dos Municípios é, antes de tudo, uma publicação de massa, que guarda algumas características do pioneiro Cadastro de Sergipe.

Esperava-se que a Universidade Tiradentes, bem sucedido empreendimento de ensino, com 40 anos de afirmação de competência por parte da família do professor Jouberto Uchoa de Mendonça, apresentasse um trabalho com um mínimo de academicidade. Sergipe Panorâmico frustra o leitor, pela repetição de dados, sem o mínimo cuidado de conferi-los, sem qualquer novidade que representasse um acréscimo, por mínimo que fosse, aos trabalhos anteriores. A tarefa não foi cumprida e compromete seus autores, principalmente Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, que tem outros trabalhos interessantes, sobre Maruim, o Barão de Maroim e Rosário do Catete. Jouberto Uchoa de Mendonça, que também figura como autor, fez uma bela carreira na educação em Sergipe, desde a cátedra de matemática no ginásio Pio X, até a fundação do ginásio Tiradentes, depois colégio, depois faculdades integradas e, por último, universidade, a vitoriosa UNIT.

A expectativa para os próximos anos é que os cursos superiores que estão sendo levados ao interior, capitaneados pelo PQD – Programa de Formação Docente, que é especialmente dirigido para os professores das redes públicas, estadual e municipal, fortaleçam a idéia de uma rede de pesquisas sergipanas, que possa aprofundar em todos os sentidos a busca dos fatos, personagens, números, paisagens, naturais e agenciadas, vida social, produção artística, atividades culturais, crenças religiosas, costumes e todo o folclore, e fazer a leitura interpretativa, guardando  velho conceito da estatística, harmonizado em suas múltiplas funções culturais.

Há um acesso rápido às informações, as novas tecnologias disponibilizam para todos. O livro já não é o único suporte da cultura, muito embora continue sendo um instrumento essencial para uso escolar, ao lado das revistas, jornais, boletins, anais, e outras publicações textuais. O vídeo, que reúne texto e imagens e permite dar a movimento funções didáticas, o CD, o CD ROM, o disquete, como objetos ou embutidos no computador e em circulação via internet, são novos suportes difusores do acervo produzido. O conhecimento, devidamente ordenado, será sempre uma nascente, que tanto pode alimentar as pesquisas e os estudos, como pode acumular o que de novo a inteligência sergipana prepara sobre o Estado e sobre a sociedade de Sergipe.

Urge, contudo, que os títulos mais representativos das quadras estudadas sejam disponibilizados ao público, para alargar democraticamente o acesso ao conhecimento. De nada adianta o esforço anterior, de dezenas de pessoas, fazendo o registro da história, explicando a geografia, arrolando nomes, coisas, compondo os painéis estatísticos, se muitas das publicações continuam desconhecidas, outras desaparecidas, ou carcomidas pelo tempo e pelo descaso. Há, também, muita coisa inédita, esparsa, precisando de uma coleta e um ordenamento para publicação, como necessidade imperiosa, como é o caso da Carta do Provincial Inácio de Tolosa, de 7 de setembro de 1575, espécie de “certidão de batismo” de Sergipe, pois trata da expedição catequética do padre Gaspar Lourenço e do irmão João Salonio. A Carta, cujo original está no Códice Jesuítico da Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal, tem cópia de boa qualidade no acervo do PESQUISE.

Não fosse o papel de inventariante bem cumprido por Jackson da Silva Lima, convertido em obras essenciais, como os dois volumes da História da Literatura Sergipe, o volume do Folclore Sergipano – Romanceiro, e as bibliografias especiais, e seria muito menor o acervo sergipano disponível, a serviço do conhecimento. São figuras de intelectuais singulares, que avultam com seus trabalhos, como verdadeiros titãs. A história haverá de guardar os seus nomes: Travassos, Felisbelo Freire, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Laudelino Freire, Silva Lisboa, Ivo do Prado, Carvalho Lima Júnior, Elias Montalvão, Clodomir Silva, Sebrão, sobrinho, Fernando Porto, José Calasans, Mário Cabral, Armando Barreto, José Cruz, Mara Thetis Nunes, Adelci Figueiredo, e outros tantos vultos que mantém acesos e visíveis os traços da sergipanidade, diferencial que singulariza o viver, sergipanamente, como expressão de uma cultura própria, marcada por circunstâncias no fulcro do tempo. A sergipanidade se revela, assim, como um caleidoscópio pelo qual a terra, a gente, a história se destacam, no contexto de uma mesma saga nordestina e brasileira.

Fonte/Infonet: Serigy – A história de um povo