História de Feira Nova: ‘A Feira continua Nova, apesar de sexagenária’

Publicado: 09/08/2009 em Livros

Comerciante fundou feirinha no povoado para evitar que moradores fossem atacados pelo bando de Lampião

A cidade de Feira Nova, distante 104 quilômetros da capital, nasceu de uma feira de trocas de animais criada por comerciantes na década de 30. O objetivo era evitar que os habitantes saíssem para fazer suas compras em cidades vizinhas e fossem atacados pelo bando de Lampião, o cangaceiro mais temido do sertão. A denominação marcou tanto que foi mantida após a emancipação do município, ocorrida em 1963.

O povoado surgiu de uma fazenda chamada Logrador (Logradouro). Parte das terras, a maioria pertencente a Domingos Dias de Souza (Domingo Bolachão), foi adquirida por José Alves de Queiroz (Fifio), que passou a habitar no pequeno povoado onde já residia José Lino de Souza, um comerciante de peles de animais. Fifio teve a idéia, junto com José Lino de Souza, de montar uma bodega e transformar parte daquele ambiente em um pequeno centro de troca e venda de gado e couro.

Na época, os moradores da redondeza faziam as compras nas feiras das cidades vizinhas, Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora das Dores. Eles viviam aterrorizados com as histórias de atrocidades praticadas pelo bando do cangaceiro Lampião, que rondava a região e tomava as mercadorias dos feirantes. Por causa disso, com a colaboração de comerciantes destemidos de Glória e Dores, a feira livre foi implantada no próprio povoado.

Início da feira

Segundo o ex-recenseador Hermógenes Leite Queiroz, 69 anos, seu tio Fifio montou num burro e saiu convidando feirantes e moradores de toda a região para participarem da feira que teve início no dia 12 de março de 1939. “Começou pequena, mas depois cresceu muito e ficou bem maior do que é hoje”, lembra ele.

A pequena feira iniciada no meio do mato, com a oferta de poucos animais, gêneros alimentícios e a indispensável farinha de mandioca, aos poucos foi se transformando num local de passatempo. Todos eram convidados para ver essa feira nova que surgia entre os dois municípios.

Esse fato exerceu grande relevância para que, após alguns anos, Antonio dos Reis Lima, prefeito de Nossa Senhora das Dores, na época sede do povoado, implantasse alguns órgãos públicos no conhecido Logrador, a exemplo do mercado e da delegacia.

O rápido crescimento do pequeno povoado contribuía para que a comunidade reivindicasse o direito de independência, conseguida através da Lei nº 1.211 de 18 de outubro de 1963, que criou o município de Feira Nova e elevou o povoado à categoria de cidade.

Seu território foi desmembrado dos municípios de Cumbe e Nossa Senhora das Dores, cuja instalação dos poderes Executivo e Legislativo ocorreu em 28 de fevereiro de 1965. Feira Nova teve como primeiro prefeito Manoel Vieira Santos (Fiinho).

Economia e tradições

Banhado pela Bacia do Rio Sergipe e alguns mananciais como os riachos Salgado e Doce, o município era considerado um grande produtor de algodão na região, possuindo, inclusive, uma grande fábrica de beneficiamento desse produto, desativada pelo poder público há alguns anos. Essa indústria foi responsável pela geração de muitos empregos no município.

Na indústria, a geração de empregos fica a cargo das fábricas de laticínios e panificações, com produtos de boa qualidade. Enquanto isso, o rendendê vai fazendo história e mantendo uma das velhas tradições no comércio.

Os costumes populares foram copiados das primeiras famílias a habitarem o município, tais como: visitar a cruz do Itapicuru na Sexta-Feira Santa, acompanhar a via-crúcis percorrida pelos penitentes durante a quaresma e reunir os cavaleiros da redondeza para um grande casamento caipira na noite de São Pedro.

As principais festas e atrações turísticas resistem desde o surgimento da cidade. São elas: Santos Reis, padroeira Nossa Senhora das Graças, festas juninas, corridas de argolas e vaquejada.

O Tanque Velho aterrado no lixo

Para o morador Juarez dos Santos, 63 anos, o fato que mais lhe deixou indignado no município foi o aterro do Tanque Velho (barragem), ocorrido na administração do prefeito Dernival Joaquim dos Santos. “Ele mandou jogar lixo no tanque que tem mais de cem anos, e cerca de 100 metros de extensão. Foi um crime dos maiores do mundo. Eu até discuti com o prefeito por causa disso”, lembra Juarez.

O Tanque Velho foi o divertimento da garotada durante várias gerações. Quando ainda não existia água encanada, as mulheres iam lavar roupa e não voltavam para casa antes de nadar nas suas águas. “Era uma riqueza para os pobres. Depois da água encanada, a gente dava água aos animais e ainda lavava os carros”, lembra Juarez.

Tributo a Feira Nova

José Augusto de Souza – Professor

Oh! Feira Nova querida
Que outrora foi Logradouro;
O teu trajeto de vida
Tem coisas que valem ouro.
Por causa de uma feira
Originou-se a cidade;
Teu aspecto inveterado
Ainda deixa saudade
O teu povo em ti confia
Com um semblante a fulgurar;
Na esperança de que um dia
Perdure a cidadania e o direito de sonhar.
Tu és tão sóbria, cidadela,
Quase sem turbilhão
Doravante terás renome,
Pois estás localizada no começo do sertão
Tenho-te no entanto
Como um gemido de flor;
Na essência deste chão
Foi dispensado o meu labor.
Não direi teu nome, oh pátria minha,
Não és florão, és pátria amada;
Meus olhos secos como pedra,
Porém banharam em sonhos no longo desta jornada.

Filhos ilustres do município

José Lino de Souza – dono das primeiras terras do povoado. Fundou a cidade em parceria com

José Alves de Queiroz (Fifio)
, que nasceu no povoado Sucupira, em Dores, mas mudou-se para o povoado aos 23 anos.


Manoel Vieira Santos (Fiinho)
– Primeiro prefeito. Entre as principais obras estão a construção da primeira escola na zona urbana e o Talho de Carne Verde.


José Joaquim dos Santos (Zé das Queimadas)
– Líder político, prefeito por duas vezes. Precursor da valorização da educação e do esporte no município. Entre as suas obras estão a praça principal (que traz seu nome), praça da matriz, escolas rurais, eletrificação na zona urbana, construção da prefeitura e do campo de futebol.


Valdira Rita dos Santos
– Primeira mulher eleita vereadora. Implantou a alfabetização e foi responsável por relevantes projetos no município, entre eles o Brasil Criança Cidadã.


José Joaquim dos Santos
(Zé Guarda, auditor fiscal aposentado) e Pedro Barbosa de Souza (Pedro
Venâncio) – Criaram o Feira Esporte Clube, inscrito no esporte amador, que revelou vários atletas para times profissionais, a exemplo de Carlos Clay, que jogou no Olímpico e no Itabaiana.


Elenízio Dantas de Souza
– prefeito de 83 a 85, quando foi assassinado no exercício do mandato. Entre suas obras estão a exatoria, o terminal rodoviário e a delegacia.


Maria Ednalva Santos
– professora estadual, 1ª diretora da Escola Maria Montessori, grande símbolo da educação no município e realizadora de eventos religiosos e sociais. A primeira escola municipal urbana leva seu nome.


Flaviano Moura
– professor em São Francisco, no Estado da Califórnia, Estados Unidos.


Geralda Oliveira Santos
– formada em Letras, professora da UFS.


Sildeno Dantas Santos
– Contador e professor da Unit.


A jornalista Edivânia Freire
, premiada com o segundo lugar no Concurso de Reportagem Pascoal Maynard 2001, promovido pela Asi, também é de Feira Nova. Aos 11 anos, quando sua mãe, a professora Maria Ednalva Santos, morreu, mudou-se para São Paulo onde foi morar com a avó. Voltou aos 17 anos, trabalhou no Posto Cultural, Telergipe, Banco Econômico (local e Ag. Hiper Bompreço em Aracaju) e trabalhou cinco anos no Jornal da Cidade. Está no CINFORM também há cinco anos. Passou pela Editoria do Caderno dos Municípios – inclusive fez a série História dos Municípios -, e atualmente é secretária da Redação.

Feira Nova hoje

Região: Sertão
Distância de Aracaju: 104 km
População: 5.062
Atividade econômica: Pecuária (bovinos, suínos, caprinos e aves), agricultura (milho, feijão e abóbora) e comércio. Na indústria possui uma fábrica de manteiga queijo e requeijão.

 

Edivânia Freire, com colaboração de Gileide Barbosa

Fonte: Cinform Municípios

 

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